quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Poluição que afeta igarapés de Manaus ameaça praias do Rio Negro

A interdição dos balneários vai resultar em prejuízos para comerciantes e prejudicar o turismo, além de deixar a cidade sem opções de passeios na natureza.
[ i ]Fim da balneabilidade dos igarapés de Manaus agora ameaça a Praia do Tupé.
Manaus - No começo da década de 1980, igarapés como os da Cachoeira Alta e Baixa, no Tarumã, zona norte de Manaus, e Mindu, que corta a cidade desde a zona leste até a zona oeste, foram tomados pela poluição causada pela falta de saneamento básico, lixo e o avanço demográfico. Após pouco mais de 30 de interdição de diversos balneários, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) alerta para a possibilidade do mesmo processo comprometer as praias da Ponta Negra, da Lua e do Tupé.
A situação é semelhante ao processo de destruição dos antigos balneários da cidade, que ficavam às margens dos igarapés. A interdição dos balneários vai resultar em prejuízos para comerciantes e prejudicar o turismo, além de deixar a cidade situada nos trópicos sem opções de passeios na natureza.
Ao longo do Mindu, por exemplo, havia o tradicional balneário do Parque 10, criado no começo do século 20, no cruzamento com a Rua Recife, atual Mário Ypiranga Monteiro. Na antiga Estrada do V-8, ainda sem pavimentação, depois transformada na Avenida Ephigênio Salles, vários ‘banhos’ eram distribuídos ao longo das margens do igarapé, como o Guanabara, próximo ao antigo Parque 10, além do Tucunaré Clube.
Mais adiante, os padres redentoristas possuíam um retiro com uma cachoeira, atualmente dentro Parque do Mindu. Na curva mais acentuada da via, o Muruama Clube de Campo, criado no final dos anos 1950, atraía muitos frequentadores convidados dos sócios nos fins de semana.
No Igarapé do 40, que corta o Distrito Industrial e o bairro Japiim, também haviam sítios ao longo do curso de água limpa em uma área quase desabitada, assim como os banhos do bairro São Jorge, próximo ao Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs), na fronteira com o atual bairro Compensa.
A população também usufruía de outros ‘banhos’ distribuídos no traçado da Avenida Torquato Tapajós, até o balneário da Ponte da Bolívia, onde hoje há a barreira no entroncamento da BR-174 (Manaus-Boa Vista) e AM-010 (Manaus-Itacoatiara).
Com estudos na área há quase 10 anos, a pesquisadora do Inpa, Hilândia Brandão, constata que o hábito da população de procurar os antigos ‘banhos’ pode terminar como resultado da expansão demográfica e imobiliária. “Se não tivermos preocupação com esses ambientes, a contaminação e interdição podem acontecer, possivelmente, em 50 anos. Não há como prever. Depende dos cuidados”.
As praias que ainda não estão poluídas correm o risco de representar perigo aos banhistas em época de seca do Rio Negro. “As praias da Ponta Negra, Lua e Tupé podem ter alterações nas condições de balneabilidade no período da seca. Isso não quer dizer que a água esteja imprópria em todo o período, mas o rio não dilui os coliformes fecais, por exemplo, como na cheia”.
Para o pesquisador Sérgio Bringel, também do Inpa, a falta de fiscalização e proteção das margens dos igarapés é o maior fator de poluição. “Isso pode fazer com que os igarapés tenham ação de erosão em pouco tempo. Associado a isso, há uma utilização inadequada do solo”.
De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas) os Igarapés da Cachoeira Alta e Baixa e do Mindu estão interditados para banho há mais de 20 anos, mas algumas nascentes estão sendo preservadas para uma possível recuperação.
A secretaria explica que no igarapé Cachoeira Alta e Baixa, por exemplo, invasões ao longo do percurso do rio e a lixeira situada na margem da AM-010 foram cruciais para que o local se tornasse poluído.

A História de Manaus e de seus Igarapés

Não se pode contar a história de Manaus sem falar de seus igarapés, dos que existem e dos que desapareceram. São elementos naturais que caracterizam a nossa região e que, teimosamente, marcam a cidade e a sua gente desde os primeiros momentos de sua formação, seja como constituintes dos hábitos locais, seja como definidores, muitas vezes, dos limites entre bairros ou, ainda, como entraves ao desenvolvimento. É o caso, por exemplo, dos igarapés de São Vicente e do Aterro que, como tantos outros, foram extintos para dar passagem ao progresso.
Onde hoje se localiza o prédio da Fazenda Pública do Estado, na rua Monteiro de Souza (Centro), estão enterradas as ruínas da Fortaleza de São José do Rio Negro, que deu origem à cidade de Manaus. Centenas de urnas funerárias (igaçabas) foram encontradas nas cercanias do Forte e os vestígios indicam que se tratava do núcleo principal de um cemitério indígena.

Esses elementos denunciadores das origens de nossa cidade estão duplamente enterrados, ignorados pelos passos apressados dos citadinos que se amiúdam no passeio público, sem saber que pisam os vestígios dos antepassados de cuja história deriva indissociavelmente nossa própria identidade – ou a negação dela. Sem memória e destituído dos referenciais de suas próprias origens, o amazonense se olha e não se reconhece.


Resíduos sólidos são retirados do igarapé da Glória


Segundo informações da Semulsp, são retiradas diariamente, em média, 29 toneladas de lixo dos igarapés da cidade.

Agentes da Semulsp trabalham para retirar resíduos sólidos dos rios e igarapés de Manaus Agentes da Semulsp trabalham para retirar resíduos sólidos dos rios e igarapés de Manaus 
 A Secretaria Municipal de Limpeza e Serviços Públicos (Semulsp) realizou nesta terça-feira, a retirada de resíduos sólidos no Igarapé da Glória, Zona Oeste da cidade. Dez agentes, uma balsa, duas lanchas e uma retroescavadeira estiveram envolvidas na ação que aconteceu nas proximidades do Beco Floriano. 




Além da Glória, os agentes da Zona Oeste também atendem a área do São Raimundo, Porto do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam), Lago do Bariri, Compensa e São Jorge. Ao todo, 60 servidores e três balsas atuam na limpeza dos igarapés de Manaus, passando pelas feiras da Manaus Moderna, Panair e comunidades ribeirinhas.